Dizem os especialistas que é, mais ou menos, no período da puberdade que criamos filtros para a imaginação. Como forma de proteção, nosso cérebro amadurece e aquela capacidade de enxergamos uma cabaninha modelada em lençol como um verdadeiro castelo e desafiar o gato da casa com uma espada de plástico como se fosse um dragão desaparece, ou adormece em algum canto lá por dentro da gente.
Crianças têm permissão para conversar com bonecos de plástico, circular pelo supermercado em um vestido de princesa com normalidade e, ao invés de desviar a poça na rua, pular bem dentro dela, espalhando água para todos os lados.
Olhos infantis tendem a enxergar com mais cor, intensidade e emoção. É a capacidade de se surpreender com o simples, ter mais espaço para o desconhecido e precisar de pouco para se sentir feliz.
Gosto muito daquele exemplo de que, para uma criança menor de 5 anos, tanto faz se o parque de diversões que ela frequenta é o da praça da cidade ou o da Disneylândia. O que interessa é se o carrossel gira, se a pipoca está crocante e a companhia é boa. Também pouco importa se o veraneio envolve o litoral gaúcho ou o Nordeste brasileiro. Tem mar? Tem sorvete? Baldinhos e pazinhas à disposição e bastante areia? Fechou. A lógica de “qualquer prazer me diverte” funciona com louvor para os pequenos. Há um vídeo lindo que circula na internet de uma menina que abre uma embalagem colorida de presente para encontrar um clipe de papel escondido lá dentro, ela entende a representatividade do embrulho e do momento, e fica extremamente empolgada com o mimo – uma pegadinha da família, que em seguida surge com o verdadeiro presente.
No mês da criança, costumamos celebrar a inocência, a pureza e a transparência que vive na infância. Graças às redes sociais e à vontade de compartilhar, também desenvolvemos o hábito de revisitar álbuns fotográficos para revisitar nossas minis versões, relembrar os trejeitos, as gracinhas, a maneira de se vestir e se portar. Sei que esta história de encontrar a criança interior já anda um tanto cansativa, não vou me ater aqui. Quero apenas dividir uma ideia: a de, vez ou outra, procurar enxergar a vida em tons menos óbvios e salpicar um pouco de purpurina e papel laminado na paleta do cotidiano.
Para mim, uma das maneiras mais fáceis de aplicar esta estratégia é viajando. É a oportunidade de partir para o inusitado, criar expectativas, desbravar a história, arriscar o novo, andar desprendido de padrões e preconceitos, com o olhar mais curioso, espiando buracos, cantinhos e desviando o percurso caçando aventuras. Se você se sente travado e nem mesmo um destino diferente é capaz de lhe soltar, vou dar uma dica: aja como uma criança – pode facilitar se tiver uma por perto. Sente-se no chão, suba os degraus de dois em dois, vista uma camiseta com frase engraçada ou um item típico da região, coma algo bem doce e colorido, ande descalço, frouxe o riso e a tensão, encare uma montanha-russa. Tente e volte aqui para me contar como foi a experiência. Técnica garantida ou seu dinheiro de volta.
Faz bem viajar como uma criança.